quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A light in the night or just a fear of the dark


As mãos estavam no volante, a tosse tinha diminiúdo, encostava a beira da estrada... Tirava a máscara que o sufocava, deixando a mesma no banco do carona, notava agora os pingos de chuva no parabrisa, abria a porta do carro, descendo do mesmo, acendia um cigarro, encostando na porta que se fechava, levava uma mão ao bolso erguendo o rosto para fitar a lua, ela estava vermelha esta noite, cheia como em um bizarro filme de terror, contrastando com o breu da noite que agora escondia com nuvens as estrelas derramando as lágrimas dos que já foram vingados em agradecimento, as gotas da chuva faziam o sangue, poeira e suor do meu rosto escorrerem, deixando manchar que se alguém fosse passar pela estrada e o olhasse diria que teria saído do buraco mais fundo do inferno, aqui onde apenas a força fazia diferença os fracos tinham alguém que os defendesse... Mentira, uma desculpa "ética" para o serviço que fazia, justificar, na verdade é que esse é um caminho perigoso onde talvez depois não se diferencie mocinhos e bandidos, o que fazer se os criminosos acabarem? Bah, isso não aconteceria, não nessa cidade, terminava o cigarro, entrando no carro batia a porta, dava a partida novamente retomando o caminho, a máscara permanecia deitada no banco o olhando, como se pedisse para ser colocada, era um segundo eu ali no banco do lado, esquizofrenia? Eu podia me ver com a máscara, conversando comigo, meu companheiro, amigo imaginário...

Lembro do meu pai novamente, do pulgueiro onde me instalei o que ele diria, imagina se soubesse das coisas que faço, pensar que começou cedo, nem sempre nascemos monstros, alguns são criados depois, exemplarmente fora meu caso, garoto alto, gordo, cara de nerd, cabelo grande, camisa suada debaixo do braço, revistas em quadrinhos na mochila, não tinha amigos, não tinha namorada, eu lembro como apanhava dos "colegas", mas era grande, não incomodava muito, feria mais o ego do que outras coisas, lembro de meu pai dizendo que eu tinha que procurar o que fazer... "Oi pai, achei o que fazer, eu mutilo criminosos e vendo os orgãos por dinheiro, mas não todos a maioria só mutilo mesmo". Charmoso não acham, mas ele não é a razão disso, nunca foi, nem a revolta de ler o jornal todo dia e ver nossa justiça não punir criminosos, tudo isto foi por ela, a mulher que eu nunca vi.

Eu me formei na faculdade, me formei engenheiro elétrico saí de casa, trabalhava fazendo planejamento de cabeamentos em estruturas junto com arquitetos, era até bom nisso, lia o jornal todo dia, tomava café todos os dias com as pessoas, tinha colegas de verdade, não era o gordo estranho, estava alto ainda, mas forte, não por exercícios constantes, mas por carregar cabos pesados subindo e descendo escadas durante o decorrer do dia, não tinha namorada, ainda tinha pouca conversa, ainda era o nerd apesar da aparência externa ter sido modificada apenas um acontecimento muito intenso poderia mudar como alguém é por dentro, foi assim que me bateu, eu vi no jornal, acompanhei o caso por meses, meses que viraram anos, a reporter, ela cobria uma coluna policial o qual sempre tratava de um ou outro assunto interessante, até que um dia ela colocou o caso de uma mãe cuja filha havia sido terrivelmente mutilada, a menina não morrera, mas ficara presa por dias, o caso fora a tona porque os agressores eram policiais, mas ninguém teve coragem de ir atrás deles, não pela lei, a reporter os expôs e por isto fora agredida na rua, passara dias internada, recentemente soube que ela saiu do coma, soube que alguns dos policiais tinham encontrado mortes horríveis. "Eu gostaria de saber o que as autoridades fazem que não cuidam de seus próprios membros, onde chegaremos quando não podemos chamar a polícia, quando temos que viver reféns em nossos lares pois não têm ninguém que se importe com isso"

A frase ecoava na cabeça, cada noite de caça, cada noite onde uma pessoa como aquelas cai diante de mim, agonizando, sofrendo ou rápido, de acordo com o crime eu dava minha sentença, mostrava o ódio dos pais e mães que sofreram, dos filhos, irmãs e irmãos que foram privados do carinho da pessoa amada por mais um dia. mas no fundo não era nada disso, era aquela frase, ninguém que se importe, ela me apaixonou de uma maneira que eu não consigo compreender, entrou no meu peito com a força de um coice de um puro sangue, saindo pelas minhas costas todo meu bom senso e sentido de moral, tranformando tudo numa idéia sórdida de vigilante, era uma ida sem propósito para qualquer lugar onde conseguisse ir, era um mergulho no escuro onde diversas pessoas te aplaudiriam se não fossem tão hipócritas...

A lua está cheia, a ponte ficou para trás junto dela o reflexo das minhas lembranças, o outro lado do canal, outro lado da cidade que nos leva a continuação da história que ainda está sendo escrita, da reportagem que ainda vai ser publicada... Escrita em sangue no mapa da cidade para aquele que tiver calma para olhar, felizmente, até eu ter terminado, ninguém vai entender o propósito... Quando eu acabar não saberão meu nome, onde moro, porque mato ou nada do gênero, fica apenas o sangue no chão junto de ossos, vísceras, cérebro e o que mais der pra se derrubar...

O carro parava em frente a casa de subúrbio, muro baixo, luzes acesas, ele estava em casa, talvez com familia amigos, nunca fiz isto antes, nunca deixei testemunhas, mas não faço nada com inocentes, isto é um teste, é a prova se sou um monstro ou um justiceiro, isto vai separar a causa do prazer, é a parte mais difícil, mesmo com lutas, tiros, fogo e o inferno que já tive que passar em minha missão. Descia do carro, abria a mala, escolhia as ferramentas, um alicate de corte, abraçadeiras, torniquetes, serrote. Ia saindo ao notar a máscara sobre o banco de carona... Arregalava os olhos ao notar que não era ele com as ferramentas, era eu, apressava-se em recolocar a máscara, indo rumo a porta onde tocava a campainha...

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Post apressado para sair pro almoço, fica registrado o atendimento ao pedido de razões para o serial killer, fica uma brecha de começo de história, isso continua.

Frase do dia: "É melhor viver de olhos abertos do que morrer sonhando"

4 comentários:

Tânia N. disse...

Belo texto, parabéns!

Taynar disse...

Nossa, de longe o melhor texto.
Eu consegui 'ver' todas essas cenas.
Excelente!

Não tenho blusa da Diesel, mas tenho uma calçca da Triton, serve?

Beijos

Taynar disse...

Sorry pela demorada.
Tava comendo pão de queijo =)

eu gostei da parte da reporter, e qualquer identificação, é pura coincidência =)

Taynar disse...

Nossa, nunca tive um personagem inspirado em mim.
Tô até feliz =)

Beijos e até a noite.