segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Crazy little thing called MADNESS


- Acorda dorminhoco, esqueceu que hoje tinha combinado de vir aqui, seu pai vai fazer um almoço, é festa de família, você prometeu vir dessa vez.

Um minuto de silêncio, alguém viu a hora? Eu olho pela janela, vejo a chuva batendo fina naquele amanhecer amarelo de um dia depois de uma noite de trabalho, almoço com a família, a oportunidade de ouro de todo mundo me criticar, criticar minhas olheiras, minha preguiça, meu mal humor.

- Tenho mesmo que ir, não posso ir doar um orgão? Eu tenho coração e cérebro que posso doar hoje.

Não custa nada tentar né?

- Não, meio dia aqui na porta ou vou te buscar por esse cabelo que você não sabe lavar.

Ah sim, criticar minha higiene pessoal também.

- Tá bom mãe.

Porque os pais fazem isso com a gente, já não basta o mundo te irritar o bastante? Eu tinha planos inadiáveis para hoje, eu ia dormir frenéticamente, mas não, têm que ir almoçar com Tio Euclides e Tia Gerusa que vai apertar minhas bochechas e dizer que sou o garotinho da titia mesmo tendo passado dos 30, sem contar aquele mulão de primo correndo, sangrando, soltando catarro, se espancando, gritando. Sim, minha família não é diferente da de ninguém, minha mãe é uma psicopata superprotetora que acredito eu trabalharia melhor com a motoserra do que eu caso alguém machucasse a mim ou meus irmãos, aquelas senhoras que todo mundo gosta de ter como mãe, que sempre tá ajeitando seu cabelo, trazendo um biscoito pra te engordar, falando contigo sobre a novela que você nunca vê e te explicando toda a trama da história.

Meus tios são daqueles variados mas do tipo de Zé que você encontra como tio pela vida, aquele que só fala de futebol, o que a sequela da cachaça não te deixa mais distinguir quando ele tá sóbrio porque voluntáriamente enrrola a língua, têm aquele tio que só te conta sobre quem morreu, sobre as últimas visitas ao médico e doenças novas que ele descobriu e o solteirão que só fala putaria e parece malando carioca de filme nacional velho.

Aí vêm as tias, ah, fala sério, quem num têm aquela tiazona gordona que nunca cresceu, entope a mente de cerveja, bate no marido, fuma e ainda assim não perde a pose de musa anos 20, temos aquela que é hipocondríaca com os filhos, se pudesse criava eles numa bolha e ia rolando ela pra lá e pra cá, temos aquela tia gostosona que nunca casou que fica sempre parada num canto rindo, temos a tia trabalhadora que escolheu a carreira ao invés da filharada e que todo mundo acha que é lésbica.

Gente, nada na minha família é diferente, meu irmão é um pretenso biólogo que ainda quer entrar para a polícia para dissecar gente, minhas irmãs vendedora, publicitária a outra mais nova querendo abrir uma veterinária, têm família mais clichê do que a minha?

Aí entra meu pai, aí que fode a porra toda, o senhor princípios morais e correto, daquele que nego tá comendo o cu dele no trabalho ele só pede um beijinho no pescoço, daqueles que deixam milhões na frende dele e se sumir uma moeda é o primeiro a se abaixar pra procurar, que nego dá fechada na rua ele ainda pede desculpas. CARALHO QUE INVEJA! Como eu queria não ficar puto com tudo que acontece, eu espanco um sofá se eu bater com o pé nele e a culpa é minha, ele até xingava Deus e o mundo, mas tipo, sem perder a pose do patriarca correto, o puto num têm um podre, nunca conta uma mentira, nem um segredinho obscuro e o maior crme da vida é roubar doces pra comer sendo diabético.

Verdade seja dita, todos os defeitos a parte são uma boa família, o problema é.

Ao olhar no espelho eu não me vejo mais enquadrado nessa família, embora a máscara não esteja ali eu ainda a vejo, sinto falta, minhas ferramentas que perdi... Sem contar que provavelmente hoje vão falar da morte do tio, olha minha cara de bunda quando tocarem no assunto, eu queria provar um ponto de vista, talvez seja a chance de ver se os filhos dele vão se orgulhar do pai ou se eram como ele. Enfim, vou colocar minha... Melhor... Camisa... Porra, quanto tempo num compro uma roupa decente, vou de calça jeans e tênis compro uma camisa no caminho, acendo... Um... Cacete num posso fumar lá, todo mundo sabe que tenho problema de pulmão vou virar assunto, tá foda... Pelo menos... Tá... A tá de sacanagem, nem a chuva mais, como vou colocar camisa de manga comprida com o Sol saindo, como vou esconder os machucados? MeLeCa, saindo pegando.... O... Carro... Que porra, como vou com meu carro, tá todo cheio de sangue, vou ter que ir de ônibus? Ahhhh alguém atira em mim...

Banho frio, banho frio para tomar coragem, deixando a água cair nas feridas e nos machucados do corpo, arde como o inferno mas é bom, a dor deixa esperto, vou precisar ficar esperto hoje, não deixar a peteca cair, vestia a calça, os coturnos, saía sem camisa com a carteira na mão, pelo menos dinheiro ainda tinha um pouco, subia no ônibus com o cabelo molhado caindo pelas costas, atraía quase todos os olhares, afinal quem tinha tantas marcas de corte, tiro, pancada e não estava morto? Ia lá pro fundo do ônibus, sentando sozinho na janela, descia no shopping, andando até uma loja bizarra cheia de pobre estilo C&A, cheio de gente andando, suada, encostando, gente feia por todos os lados, coisa bonita, shopping suburbano, ZONA NORTE NEGUIN, mas enfim, comprava uma camisa preta larga indo para o caixa, pagava e vestia a camisa, todo torto para arrancar a etiqueta, podia ter lambrado de fazer isso antes, já passava de meio dia, ia rolar esporro, passava na farmácia comprava bandagem para enrrolar o braço cortado, o fazia, ia dizer que era queimadura, ainda trabalhava com eletricidade podia ter feito merda, costumava ser desajeitado mesmo.

Enfim, pegava um taxi os pais moravam por perto, o portão aberto mamãe na porta.

- Ué, não veio de carro? Você gosta mais dele que de mim.

- É mãe, vim encher os cornos com a senhora e se venho de carro ia ter que ficar pro dia seguinte.

Abraçava a mãe pegando no colo e indo para dentro de casa.

O grito:

- Cheguei putada!!

Todo mundo ria milhares de, oi tudo bem, cresceu, tá gordo, tá alto, tá magro, uma ou outra prima gostosa reparando no ex gordinho, ah que se dane, largava a mãe dando um abraço no pai perto da churrasqueira, ele olhava o braço machucado

- Já fez merda, era desculpa pra não vir.

- Se eu falar que não você acredita?

- Não.

- Então era.

Buscava a cerveja no isopor do canto, sentando perto dos primos menores, crianças são legais elas falam menos, depois de alguns minutos já tinha sido arrastado com uma coxa de frango mordida na boca para a sala jogar videogame com as crianças. Até que não tinha começado tão mal.

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Segunda, dia de cão, o meu até começou bem, meu filho comigo na minha casa, falando com os amigos, o foda é ver Discovery Kids, mas enfim, da-se um jeito.

Boa semana pra todo mundo, boa sorte para cruzar esta segunda feira.

Frase do dia: LOK'TAR OGAR!! (A vitória ou morte)

Hasta.

4 comentários:

Taynar disse...

Nossa, minha família é igual.
Sendo que o tio malandro, que só fala de mulher é o meu pai.
Mas tem sempre aquele papo de tá magra [:D] engordou [=/].

Gostei, moço, gostei bastante.
Vai ter continuação desse dia?
Beijos

Taynar disse...

Ahhh, ficou legal.
Gostei.

Beijos

Taynar disse...

Tás igual à mim, com aquela história que me ajudastes a escrever, onde comecei sabendo o fim que queria.

Beijos

o que me vier à real gana disse...

Outro blog k vale a pena. Encontrei-o através do da Taynar.

Parabéns!